Mais um final de ano está chegando. E com ele, uma das datas mais aguardadas por milhares de pessoas no mundo: o Natal. Como é de costume entre os cristãos, comemoramos a chegada do menino Jesus com muita festa, oração e – como não podia deixar de ser – carregados de simbolismos, que, com o passar dos tempos, acabam tendo seus significados despercebidos por muitas pessoas que deles se utilizam, especialmente, nesta época do ano.
Os símbolos mais utilizados no Natal são: a árvore (enfeitada com bolas, anjos, laços); o presépio; a ceia; a estrela, a guirlanda; as velas; os presentes e cartões. O que alguns de nós se esquece ou, muitas vezes, não percebe é o simbolismo com que estão impregnadas muitas das belíssimas canções natalinas.
Há um conto, chamado Natal nas Trincheiras¹ que, apesar de fictício, foi inspirado em um acontecimento real: a trégua de Natal de 1914, durante a 1ª Guerra Mundial. O fato teve lugar na linha de batalha entre a costa da Bélgica, a norte, e a fronteira da Suíça, a sul, em um trecho denominado Terra de Ninguém. No conto, a música Stille Nacht (Noite Feliz), de Franz Grüber, é entoada por um soldado alemão e logo seguida por seus companheiros. Do outro lado, na trincheira oposta, os soldados das Forças Aliadas – sensibilizados pela bela música, resolvem engrossar o coro, cantando também, em sua própria Língua, confraternizando com os inimigos.
Uma de minhas canções de natal preferidas chama-se The twelve day of Christmas² (Os doze dias do Natal). Contam que ela surgiu durante a época da perseguição anglicana contra os católicos, no século XVI. Alguns países, adeptos da Reforma Protestante, começaram a perseguir os católicos, tornando quase impossível a prática de sua religião naqueles territórios. Para continuar transmitindo a doutrina católica aos seus fiéis e celebrar sem medo de represálias o Natal, conforme sua tradição, católicos ingleses compuseram a música, que seria uma espécie de catecismo às escondidas, uma vez que o simbolismo de sua letra expressaria, na realidade, a fé cristã.
Os doze dias do Natal (Tradução da música The twelve days of Christmas)
“No primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: uma perdiz numa pereira.
No segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira.
No terceiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira.
No quarto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 4 pássaros cantando…
No quinto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 5 anéis dourados…
No sexto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 6 gansos chocando…
No sétimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 7 cisnes nadando…
No oitavo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 8 servas ordenhando…
No nono dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 9 senhoras dançando…
No décimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 10 lordes saltando…
No décimo primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 11 flautistas tocando…
No décimo segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 12 tocadores de tambor, 11 flautistas tocando, 10 lordes saltando, 9 senhoras dançando, 8 servas ordenhando, 7 cisnes nadando, 6 gansos chocando, 5 anéis dourados, 4 pássaros cantando, 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira…”
A letra da canção, de acordo com a fé cristã, deveria ser compreendida da seguinte forma³:
1º dia: O verdadeiro amor seria Deus Pai. A perdiz na pereira simbolizaria Nosso Senhor Jesus Cristo. E a pereira representaria a Cruz.
2º dia: As duas pombas-rolas representariam o Antigo e o Novo Testamento.
3º dia: As três galinhas francesas representariam as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Essas galinhas eram muito caras durante o século XVI e só os ricos tinham condições de comprá-las. Por isso, poderiam simbolizar, também, os três presentes ofertados pelos Reis Magos ao menino Jesus: ouro, o inceso e a mirra.
4º dia: Os quatro pássaros cantando representariam os quatro Evangelhos. Neles estão contidos a vida de Nosso Senhor e seus ensinamentos. Como pássaros cantando de modo claro e em alta voz, os quatro Evangelistas espalham por todo o mundo a Boa-Nova da Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.
5º dia: Os cinco anéis dourados representariam os cinco primeiros livros do Antigo Testamento ou o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que lembravam aos católicos suas raízes.
6º dia: Os seis gansos chocando representariam os seis dias que Deus empregou na criação da Terra, do Universo e das criaturas.
7º dia: Os sete cisnes nadando representam os sete sacramentos e também os sete dons do Espírito Santo. Com os sacramentos e os dons, os fiéis poderiam sustentar-se através dos tempos de perseguição. Como os filhotes de cisnes transformam-se de patinhos feios em belos cisnes, assim a graça de Deus nos transforma de simples criaturas em filhos de Deus.
8 º dia: As oito servas ordenhando representariam as oito bem-aventuranças pregadas por Nosso Senhor no Sermão da Montanha. As bem-aventuranças, como o leite, alimentam e nutrem o católico.
9 º dia: As nove senhoras dançando são os nove frutos do Espírito Santo (Gal. 5, 22-23): caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança. Da mesma forma como as senhoras que dançam alegres, os cristãos podem alegrar-se com a vida transformada pelos frutos do Espírito Santo.
10 ºdia: Os dez Lordes pulando simbolizariam os 10 Mandamentos da Lei de Deus.
11 ºdia: Onze flautistas tocando representariam os 11 Apóstolos que permaneceram fiéis a Nosso Senhor. Como flautistas atraem o público com sua música, estes discípulos chamaram outros a seguir Jesus, tocando uma canção eterna: a mensagem de salvação e da ressurreição após a morte.
12º dia: Os doze tocadores de tambor representariam os doze artigos do Credo. Assim como eles tocam sonoramente para que todos possam ouvi-los, o Credo revela a fé daqueles que são chamados cristãos.
Já o título da canção Os doze dias do Natal, refere-se aos dias entre o Natal e a Festa da Epifania, que é celebrada no dia 06 de Janeiro. Originalmente, a Festa da Epifania era a única festa cristã da manifestação de Deus ao mundo na pessoa de Jesus de Nazaré e incluía a celebração do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo, a adoração dos Rei Magos e todos os acontecimentos da infância de Jesus como a Circuncisão, a Apresentação no Templo, assim como o seu Batismo por São João no Rio Jordão.
Lindo, não é mesmo?
Seja qual for a sua fé, desejo a todos um final de ano repleto de paz e respeito. Que as pessoas procurem ser mais fraternas umas com as outras e que se unam em busca de um bem que não seja particular, mas de interesse comum: um mundo melhor para todos nós.
UM ÓTIMO NATAL E UM ANO MELHOR DO QUE FOI ESTE QUE SE VAI É O QUE DESEJO A TODOS!
Linda tela do pintor português Grão Vasco, Século XVI
Fontes de pesquisa:
1 Clique AQUI e leia o conto Natal nas Trincheiras.
2 Clique AQUI ou AQUI e ouça a música “The twelve days of Christmas”
3 Clique AQUI e leia o texto de Roger Vargas “Os doze dias do Natal” para a Revista Catolicismo.
Filmes que retratam o episódio da trégua nas trincheiras: “Feliz Natal” (2005) e “Oh! Que bela guerra” (1969)